sábado, janeiro 07, 2006

Sal a gosto


Por este blog um novo amigo, colega de trabalho, ficou sabendo de minhas pretensões culinárias.

Comentei da minha dificuldade em entender receitas, e, em especial, a expressão que não traz informação alguma: "sal a gosto". Comentei a respeito, e a resposta do gourmet foi justamente esta, que o cozinheiro é que determina a quantidade de sal, a seu gosto.
Quanto é sal a gosto? Uma pitada de sal é pouco? Uma colher de chá? Uma colher de sopa? Meio quilo? Meio quilo é muito? Depende da quantidade de comida, é óbvio! Mas para a receita em questão, quanto sal é muito e quanto sal é pouco? Se o meu gosto é pouco sal, quanto sal é pouco sal para o meu gosto? A conclusão óbvia é, eu não sei cozinhar. Porque o cozinheiro com um mínimo de competência deveria saber que para aquela receita que está lendo a quantidade de sal do seu gosto é um centon [1].

O corolário, boa parte das receitas foram feitas de cozinheiras para cozinheiras, senão vejamos
:

Cortar as bananas em cubinhos. Frite até que fiquem douradas. Refogar o alho e a cebola na manteiga, juntar as bananas fritas ao refogado. Acescentar a farinha de mandioca e mexer até a que a farinha fique crocante. Colocar sal a gosto.

Aqui temos mais uma expressão ininteligível ao leigo: refogar. Nesta semana, reunido com várias amigas, nenhuma delas soube me dar uma explicação do que é refogar ou de como refogar algo, e todas são cozinheiras!

Enfim, munido de meus conhecimentos de física e química, por ser nerd, tive o insight da culinária há poucos meses, a partir dos quais prestei atenção a alguns programas de culinária. Fácil é diferenciar aqueles apresentadores que estão burocraticamente repetindo uma receita que a produtora descobriu dos verdadeiros chefs que executam as receitas com maestria e velocidade. Um dos fatos que percebi, é que um chef executa uma receita, mesmo que sofisticada, em uma velocidade rápida! Eu consigo entender os princípios de decisão e velocidade, mas o que falta:
- saber o tempo de cozimento de cada alimento
- entender o que são alguns termos como: refogar, ovos em clara, marinar, etc.
- aprender a cozinhar, porra!

Me disseram que algumas receitas são para leigos, com quantidades especificadas em gramas e não em medidas estranhas, e com um glossário dos termos técnicos. Percebi que preciso fazer um curso de culinária bem básico, afinal, cozinhar é como dirigir, se aprende fazendo. Alguém tem uma sugestão?

[1] Unidade de medida genérica da série Battlestar Gallactica.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Dos Motoristas Contínuos

Há muito tempo já se sabe que o menor quanta de tempo é definido pelo intervalo de tempo entre a luz verde da sinaleira recém aberta e a buzinada que o neurótico atrás de ti dá, em geral, um taxista. Esta é a antiga física aplicada ao trânsito (fisicologística), um novo ramo de pesquisa é a biologia aplicada ao trânsito (biologística).

Em uma missão Darwiniana à bordo do meu Palio (infelizmente não foi o Beagle), pude identificar uma nova espécie de motoristas: os Motoristas Contínuos (Vexi Continuum). Frutos da evolução biológica e tecnológica, caracterizam-se por habitar seus veículos 100% de suas vidas. Numa adaptação recente decorrente da popularização das lojas de conveniência, estes seres agora podem abastecer-se de calorias e de combustível [1]. Todavia, os toaletes destes estabelecimento não propiciam o mesmo grau de conforto.

Devido à estes novos ambiente, os motoristas contínuos adquiram um novo hábito, como o nome da espécie diz, dirigir continuamente os seus veículos. De um lado para outro da cidade, no trâsito diurno e noturno, estes seres nunca param, exceto, é claro nas lojas de conveniência. O insight da descoberta decorreu quando à bordo do Palio, estava a estacionar. Numa rua de movimento médio, pisca-pisca ligado, de acordo com as normas de trânsito. Este autor ouviu uma buzinada de protesto (Bibiiiii!!!), totalmente fora de contexto, e instantaneamente pude concluir que se tratava de uma nova espécie de motoristas.

Os motoristas contínuos nunca estacionam seus veículos em vias públicas! Por esta razão, disputam o espaço com os motoristas comuns, e não compreendem porque os veículos destes tem o hábito de estacionar. No quesito disputa de espaço, os motoristas contínuos desenvolvem altas velocidades nos horários noturnos.

Boa parte do estresse no trânsito é causada por esta classe de motoristas. Como resolver este problema? Uma possibilidade são os autódromos. Os Motoristas Contínuos poderiam começar a trafegar em Tarumã. Desta feita, ao dar voltas e mais voltas em uma pista cada vez mais engarrafada, satisfariam seu afã de engarrafamentos infinitos e buzinaços à la carte. Os 3016 metros de pista seriam suficientes para alguns milhares de Vexi Continua.

Uma reinvidicação nova e crescente desta classe é a modificação do exame de motorista para seus interesses próprios, com a eliminação da prova de estacionamento, bem como da necessidade da interpretação das placas de trânsito, pois afinal, como dizem, as vias foram feitas para se circular! Para tal, seu lobby é forte no Congresso Nacional, com o desvio da maior parte das verbas da contribuição sobre a gasolina, todavia, como lá nunca se trabalha e nada se vota (e esta é uma outra história), o efeito do seu lobby é nulo.

Da próxima vez que tu, motorista tradicional, estiver a estacionar, ou a realizar uma manobra válida do trânsito, e alguém buzinar, não estranhe pois trata-se do novo tipo de motoristas que está a habitar as nossas cidades!

[1] Da literatura do marketing: One-stop shop.