sábado, novembro 04, 2006

O ladrão de bananas

No último final de semana, Election Day, fui almoçar na praça de alimentação do Bourbon Shopping aqui perto. Mais pela conveniência, pois é a opção mais próxima para variar o almoço nos dias de trabalho, bem como perto de casa, ou seja, nada de novo no front.

Além do McDonald's, a praça tem restaurantes com um perfil parecido. Oferecem um buffet à quilo com preço máximo, acima do qual o preço é franqueado e tu podes te entupir de comida com um custo fixo. Nos restaurantes mais caros a franquia é de 14 ou 16 reais. Nos outros pode começar desde 11 reais.

Estava almoçando quando reparei num senhor bem aparentado, magro, com uma quantidade errada de comida. A minha primeira impressão foi "como assim uma bandeja de comida?". Aparentando uns 55 anos de idade, cabelos brancos bem penteados, cavanhaque bem desenhado, camiseta e calção azuis claros bem passadas. E com uma bandeja de comida à sua frente. Ele era magro. Um pratão de comida quente, um outro de saladas (tudomisturadomesmo emambosospratos - gostosmisturados). E para completar, uma banana e dois pãezinhos na bandeja.

Estava comendo a minha comida há algum tempo, reparando nos detalhes. Ele comprou uma Coca-cola de 2 litros no supermercado. A mesa era grande. Um jovem comprou uma lata no restaurante e conseguiu alguns copos extra de plástico. Ele serviu da garrafa de 2 litros as outra pessoas. Logo chegou sua esposa, também magra com mais uma bandeja de comida! Ali estava um bifão de frango, que foi prontamente enrolado em um guardanapo e colocado sorrateiramente na sacola de plástico, que foi em seguida colocada sobre a cadeira ao seu lado!

Então era isto! Ele queria economizar na comida! Em seguida, colocou sua banana, e a banana da bandeja da esposa na sacola, cuidando para ver se estava sendo observado. E logo se foram os pãezinhos também. Ele remava na bandeja, e eu já tinha terminado de tomar o meu café. Queria saber se ele ia despejar aquele restão de comida nos dois pratos na sacola. Daí eles poderiam jantar o frango misturado com o guardanapo, as bananas e os pães, tudo com o gosto da sacola do Zaffari. Não descobri se a salada foi junto. Minha namorada não estava entendendo porque eu não queria ir embora...

Já discuti este assunto com 2 pessoas. Não era uma questão de dinheiro. Estava bem vestido. Gastou uns 30 reais nas duas bandejas de dinheiro. Poderia ter gasto metade disto num frango assado e um quilo de arroz ali mesmo no supermercado, ou bem menos se cozinhasse em casa. Poderia ter ido num restaurante mais barato, existem outros buffets mais baratos que abrem aos domingos.

Ele estava envergonhado do que estava fazendo, pois colocou a comida sorrateiramente na sacola. A regra é, coma o que puderes, mas não é para levar o jantar para casa pelo mesmo preço (e muito menos comida para a semana inteira).

O meu corolário é: mais uma manifestação do infame "jeitinho brasileiro". Um ladrão de bananas. Queria tirar vantagem do buffet! Roubou 2 bananas (50 centavos?), 3 ou 4 pãezinhos (1 real?) e um bife de frango (3 reais?). Pode parecer exagerado, mas é o mesmo tipo de comportamento que vai numa escalada de corrupção até os mais altos escalões nacionais. Você mesmo faz isto, leitor! Vai me dizer que nunca furou um sinal vermelho? Nunca furou uma fila? Não é brasileiro? Braaaa-siiil!!! (trilha sonora de vitória do Airton Senna).

segunda-feira, setembro 04, 2006

O Termostato da Geladeira




Eu conheço uma pessoa, cujo nome não declinarei aqui, que mantém o termostato da geladeira num nível baixo, o número "3", com raras exceções.

Pois bem, em recente viagem, comprei por uma barbadinha (11 dólares no total) uma mini-balança, um termômetro de forno e, tchan-tchan, um termômetro de geladeira.

Este post será bem curto. Meu termostato está sempre no máximo, o número "7". Coloquei o termômetro há uma semana, quando estava 30 graus do lado de fora. Ele logo passou a marcar de 3 a 4 graus Celsius, na faixa onde diz "food". Hoje está Zero grau lá fora. O termostato continua no "7". A geladeira continua na mesma temperatura.

Conclusão óbvia, o termostato executa a sua função - regula a temperatura dentro de um limite máximo e mínimo que não varia com a temperatura exterior. O que muda? O quanto o motor funciona, dependendo da temperatura-alvo e da temperatura de fora.

O termostato "3" só faz a comida estragar mais rápido.

quarta-feira, agosto 30, 2006

Faxineira Fascinante




Em homenagem a uma bela e divertida surpresa que tive hoje ao chegar em casa! =P

O tom da letra não reflete a eficiência da faxineira homenageada, mas enfim, é uma bela música, para quem não conhece a música, vale a pena ouvir.

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"Faxineira" - Nei Lisboa

Faxineira, fascinante
Onde guardaste o papel
Que eu deixei na estante anteontem

É importante
É o telefone que o Mutuca me passou
De uma garota de Brasília
Filha única de um governador

Faxineira, fascinante
Eu passei a tarde inteira
Procurando uma palheta
Tava dentro da gaveta
E a gaveta dentro do congelador
E o pior é que a geladeira
Tava dentro da banheira
E a banheira no meio do corredor

Faxineira, fascinante
Como pode ser assim
Num instante fascinante
De repente tão ruim
Faxineira

Diz que vem na terça-feira
Eu digo ãhan
Era clean, virou sujeira
Me aparece no domingo de manhã

sábado, janeiro 07, 2006

Sal a gosto


Por este blog um novo amigo, colega de trabalho, ficou sabendo de minhas pretensões culinárias.

Comentei da minha dificuldade em entender receitas, e, em especial, a expressão que não traz informação alguma: "sal a gosto". Comentei a respeito, e a resposta do gourmet foi justamente esta, que o cozinheiro é que determina a quantidade de sal, a seu gosto.
Quanto é sal a gosto? Uma pitada de sal é pouco? Uma colher de chá? Uma colher de sopa? Meio quilo? Meio quilo é muito? Depende da quantidade de comida, é óbvio! Mas para a receita em questão, quanto sal é muito e quanto sal é pouco? Se o meu gosto é pouco sal, quanto sal é pouco sal para o meu gosto? A conclusão óbvia é, eu não sei cozinhar. Porque o cozinheiro com um mínimo de competência deveria saber que para aquela receita que está lendo a quantidade de sal do seu gosto é um centon [1].

O corolário, boa parte das receitas foram feitas de cozinheiras para cozinheiras, senão vejamos
:

Cortar as bananas em cubinhos. Frite até que fiquem douradas. Refogar o alho e a cebola na manteiga, juntar as bananas fritas ao refogado. Acescentar a farinha de mandioca e mexer até a que a farinha fique crocante. Colocar sal a gosto.

Aqui temos mais uma expressão ininteligível ao leigo: refogar. Nesta semana, reunido com várias amigas, nenhuma delas soube me dar uma explicação do que é refogar ou de como refogar algo, e todas são cozinheiras!

Enfim, munido de meus conhecimentos de física e química, por ser nerd, tive o insight da culinária há poucos meses, a partir dos quais prestei atenção a alguns programas de culinária. Fácil é diferenciar aqueles apresentadores que estão burocraticamente repetindo uma receita que a produtora descobriu dos verdadeiros chefs que executam as receitas com maestria e velocidade. Um dos fatos que percebi, é que um chef executa uma receita, mesmo que sofisticada, em uma velocidade rápida! Eu consigo entender os princípios de decisão e velocidade, mas o que falta:
- saber o tempo de cozimento de cada alimento
- entender o que são alguns termos como: refogar, ovos em clara, marinar, etc.
- aprender a cozinhar, porra!

Me disseram que algumas receitas são para leigos, com quantidades especificadas em gramas e não em medidas estranhas, e com um glossário dos termos técnicos. Percebi que preciso fazer um curso de culinária bem básico, afinal, cozinhar é como dirigir, se aprende fazendo. Alguém tem uma sugestão?

[1] Unidade de medida genérica da série Battlestar Gallactica.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Dos Motoristas Contínuos

Há muito tempo já se sabe que o menor quanta de tempo é definido pelo intervalo de tempo entre a luz verde da sinaleira recém aberta e a buzinada que o neurótico atrás de ti dá, em geral, um taxista. Esta é a antiga física aplicada ao trânsito (fisicologística), um novo ramo de pesquisa é a biologia aplicada ao trânsito (biologística).

Em uma missão Darwiniana à bordo do meu Palio (infelizmente não foi o Beagle), pude identificar uma nova espécie de motoristas: os Motoristas Contínuos (Vexi Continuum). Frutos da evolução biológica e tecnológica, caracterizam-se por habitar seus veículos 100% de suas vidas. Numa adaptação recente decorrente da popularização das lojas de conveniência, estes seres agora podem abastecer-se de calorias e de combustível [1]. Todavia, os toaletes destes estabelecimento não propiciam o mesmo grau de conforto.

Devido à estes novos ambiente, os motoristas contínuos adquiram um novo hábito, como o nome da espécie diz, dirigir continuamente os seus veículos. De um lado para outro da cidade, no trâsito diurno e noturno, estes seres nunca param, exceto, é claro nas lojas de conveniência. O insight da descoberta decorreu quando à bordo do Palio, estava a estacionar. Numa rua de movimento médio, pisca-pisca ligado, de acordo com as normas de trânsito. Este autor ouviu uma buzinada de protesto (Bibiiiii!!!), totalmente fora de contexto, e instantaneamente pude concluir que se tratava de uma nova espécie de motoristas.

Os motoristas contínuos nunca estacionam seus veículos em vias públicas! Por esta razão, disputam o espaço com os motoristas comuns, e não compreendem porque os veículos destes tem o hábito de estacionar. No quesito disputa de espaço, os motoristas contínuos desenvolvem altas velocidades nos horários noturnos.

Boa parte do estresse no trânsito é causada por esta classe de motoristas. Como resolver este problema? Uma possibilidade são os autódromos. Os Motoristas Contínuos poderiam começar a trafegar em Tarumã. Desta feita, ao dar voltas e mais voltas em uma pista cada vez mais engarrafada, satisfariam seu afã de engarrafamentos infinitos e buzinaços à la carte. Os 3016 metros de pista seriam suficientes para alguns milhares de Vexi Continua.

Uma reinvidicação nova e crescente desta classe é a modificação do exame de motorista para seus interesses próprios, com a eliminação da prova de estacionamento, bem como da necessidade da interpretação das placas de trânsito, pois afinal, como dizem, as vias foram feitas para se circular! Para tal, seu lobby é forte no Congresso Nacional, com o desvio da maior parte das verbas da contribuição sobre a gasolina, todavia, como lá nunca se trabalha e nada se vota (e esta é uma outra história), o efeito do seu lobby é nulo.

Da próxima vez que tu, motorista tradicional, estiver a estacionar, ou a realizar uma manobra válida do trânsito, e alguém buzinar, não estranhe pois trata-se do novo tipo de motoristas que está a habitar as nossas cidades!

[1] Da literatura do marketing: One-stop shop.