quarta-feira, janeiro 04, 2006

Dos Motoristas Contínuos

Há muito tempo já se sabe que o menor quanta de tempo é definido pelo intervalo de tempo entre a luz verde da sinaleira recém aberta e a buzinada que o neurótico atrás de ti dá, em geral, um taxista. Esta é a antiga física aplicada ao trânsito (fisicologística), um novo ramo de pesquisa é a biologia aplicada ao trânsito (biologística).

Em uma missão Darwiniana à bordo do meu Palio (infelizmente não foi o Beagle), pude identificar uma nova espécie de motoristas: os Motoristas Contínuos (Vexi Continuum). Frutos da evolução biológica e tecnológica, caracterizam-se por habitar seus veículos 100% de suas vidas. Numa adaptação recente decorrente da popularização das lojas de conveniência, estes seres agora podem abastecer-se de calorias e de combustível [1]. Todavia, os toaletes destes estabelecimento não propiciam o mesmo grau de conforto.

Devido à estes novos ambiente, os motoristas contínuos adquiram um novo hábito, como o nome da espécie diz, dirigir continuamente os seus veículos. De um lado para outro da cidade, no trâsito diurno e noturno, estes seres nunca param, exceto, é claro nas lojas de conveniência. O insight da descoberta decorreu quando à bordo do Palio, estava a estacionar. Numa rua de movimento médio, pisca-pisca ligado, de acordo com as normas de trânsito. Este autor ouviu uma buzinada de protesto (Bibiiiii!!!), totalmente fora de contexto, e instantaneamente pude concluir que se tratava de uma nova espécie de motoristas.

Os motoristas contínuos nunca estacionam seus veículos em vias públicas! Por esta razão, disputam o espaço com os motoristas comuns, e não compreendem porque os veículos destes tem o hábito de estacionar. No quesito disputa de espaço, os motoristas contínuos desenvolvem altas velocidades nos horários noturnos.

Boa parte do estresse no trânsito é causada por esta classe de motoristas. Como resolver este problema? Uma possibilidade são os autódromos. Os Motoristas Contínuos poderiam começar a trafegar em Tarumã. Desta feita, ao dar voltas e mais voltas em uma pista cada vez mais engarrafada, satisfariam seu afã de engarrafamentos infinitos e buzinaços à la carte. Os 3016 metros de pista seriam suficientes para alguns milhares de Vexi Continua.

Uma reinvidicação nova e crescente desta classe é a modificação do exame de motorista para seus interesses próprios, com a eliminação da prova de estacionamento, bem como da necessidade da interpretação das placas de trânsito, pois afinal, como dizem, as vias foram feitas para se circular! Para tal, seu lobby é forte no Congresso Nacional, com o desvio da maior parte das verbas da contribuição sobre a gasolina, todavia, como lá nunca se trabalha e nada se vota (e esta é uma outra história), o efeito do seu lobby é nulo.

Da próxima vez que tu, motorista tradicional, estiver a estacionar, ou a realizar uma manobra válida do trânsito, e alguém buzinar, não estranhe pois trata-se do novo tipo de motoristas que está a habitar as nossas cidades!

[1] Da literatura do marketing: One-stop shop.

3 comentários:

Drika Bruzza disse...

Hahahahahaha...
Já posso imaginar... eles têm barba grande, cabelo sujo, péssima circulação sanguínea (o que pode ser um trunfo pra nós semi-normais), provavelmente solteiros e esquizofrênicos. Falam com o rádio, conversam com o retrovisor, indagam os limpadores... Talvez até tenham problemas no tendão da perna direita, pela pressão contínua (continuous presionius directus) exercida sobre o acelerador.
Com certeza, dentre essa nova raça, ainda existem os que tomam banho com o carro, naquelas duchas que ensaboam, enxaguam e arranham o veículo.
Sub-raças, eu diria.
Alguns devem limpar o óculos com bucha de algodão, outros engraxam os sapatos com brilho para pneus. Uns usam aqueles tapetes de bolas de madeira, pra não prejudicar a coluna, outros colocam tapetes de retalhos mega-coloridos no pára-brisa traseiro, ou o chinelinho do filho (se tiver filho, senão uma miniatura de pneu, ou quem sabe um chaveiro STP ou umas 30 fitinhas do Senhor do Bomfim, porque como são contínuos, vão longe... e o pior que voltam.) no retrovisor.
Se a gente for analisar raças, sub-raças, subsub-raças, e assim por diante, vamos virar analistas contínuos (analistas continuous) e bem, aí já é outro post ;)
Digamos que qualquer semelhança com a ficção é mera realidade, pra resumir essa loucura.

Drika Bruzza disse...

Esse "cara" aí em cima deixou um comment pra mim também, igualzinho... tsc tsc tsc... Creio que trata-se de um bloguerius continuous ou, pasme, Sky: um Robot =)

hehehe

Luciano Sky disse...

Isto mesmo! =)